Coronavírus

Coordenadores e docentes do Proeja juntos com o Sindicato na rejeição à EaD durante a pandemia

Coordenadores e docentes do Proeja juntos com o Sindicato na rejeição à EaD durante a pandemia

Data: 19 de abril de 2020

 

Sinasefe Seão Ifes defende suspensão do calendário acadêmico e que debate sobre EaD aconteça só após o fim da quarentena. Estudantes também já se colocaram contra a EaD neste momento

Em meio a uma pandemia mundial, além de estado de Calamidade Pública decretada pelo Governo Federal no Brasil, o Comitê de Crise do Ifes publicou no dia 9 de abril uma portaria precipitada (clique e confira a Portaria 833), implantando a Educação à Distância (EaD) na Instituição. Isso foi feito sem antes promover um amplo debate com a comunidade, o que deveria ser promovido após o retorno às aulas, sem os atropelos inevitáveis que a situação de emergência e quarentena impõe.

Diante disso, mais uma manifestação chegou ao Sinasefe Seção Ifes, desta vez dos coordenadores e docentes do Proeja do campus Vitória (clique aqui e confira o documento completo). O sindicato vem publicando diversos manifestos e posicionamentos. A disponibilização de seus espaços virtuais é uma forma de incentivar o debate amplo entre docentes e técnicos durante o difícil momento pelo qual todas/os passam. Além disso, o próprio Sinasefe Seção Ifes divulgou seu posicionamento defendendo a suspensão do calendário acadêmico (clique aqui e confira).

A análise do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) envolve, além da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a Educação Básica, o Ensino Médio e a Educação Profissional (EP). O manifesto dos coordenadores e docentes do Programa no campus Vitória explica que, em sua concepção, o Proeja é um marco na construção de um projeto para uma sociedade mais igualitária e mais justa.

Atualmente, o Ifes tem 733 alunas/os matriculados nos cursos do Proeja e entre elas/es há 160 ingressantes tendo suas primeiras aulas de informática. Estes estudantes não possuem condições financeiras para comprar computadores e nem para a contratação de serviço de internet. Além disso, são jovens e adultos trabalhadores, e boa parte deles em situação de vulnerabilidade socioeconômica, com diversas dificuldades de outras ordens para além da aprendizagem.

Distorção e indignação

O professor do campus Vitória Gutenberg de Almeida falou de sua angústia e indignação diante do que está ocorrendo e pede bom senso à gestão do Ifes, assim como responsabilidade e sensibilidade na condução de suas políticas internas. Ele destacou que houve surpresa com a medida da Reitoria que realizou uma consulta com parte da comunidade acadêmica, por meio de um formulário limitado que resultou no anúncio da validação pelo Comitê de Crise de uma proposta de implementação de aulas não presenciais para os cursos técnicos e de graduação enquanto durar a pandemia.

Chama a atenção, segundo o professor, as distorções da pesquisa e as ausências importantes nas conclusões apresentadas no comunicado oficial. Gutenberg destaca que não foram considerados aspectos como o fato de que cerca de 53% dos entrevistados nunca utilizaram o Ambiente Virtual de Aprendizagem do Ifes (AVA-Moodle) em sua prática pedagógica; que apenas 19,2% dos entrevistados já atuaram como professores em alguma modalidade de ensino à distância; e de que apenas 10,84% dos entrevistados são totalmente a favor da implementação desta modalidade em substituição às aulas presenciais.

Entre os docentes entrevistados, 50,09% apresentam ressalvas na substituição das aulas presenciais, que sequer foram mencionadas ou debatidas com a comunidade; somente 45,19% dos entrevistados são favoráveis ao ensino híbrido no retorno às aulas; aproximadamente 34% dos docentes não conseguem ao menos opinar ou não concordam com a implementação desta modalidade de ensino em substituição às aulas presenciais; e, entre os docentes que já possuem experiência com o AVA, apenas 21,33% se sentem confortáveis em compartilhar seus conhecimentos com os demais colegas de profissão.

Após análise desses dados, o Sinasefe Seção Ifes, junto com docentes, alunos/as e técnicos-administrativos, faz os seguintes questionamentos:

  • Como foi possível o Comitê de Crise e Reitoria concluírem positivamente pela implementação da modalidade EaD, que estão chamando de atividades não presenciais, no Ifes no que diz respeito aos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio?
  • Como capacitar e dar segurança a mais de 1.000 docentes num espaço curto de tempo? Quantos monitores serão necessários? Como capacitá-los a tempo?
  • Em um momento de isolamento social, como conciliar esta proposta com inúmeros possíveis conflitos que extrapolam a sala de aula, como familiares ficando doentes e filhos fora de ambiente escolar, dificuldades financeiras, entre outros?
  • Como prover tecnologias adequadas e ambiente propício para preparo e atendimento das demandas de inúmeras turmas em salas virtuais?

É importante destacar, ainda, que há diferença entre transmitir a informação e a interação professor-aluno para a construção do conhecimento, o que pode não ser possível com o aluno isolado em frente ao seu computador.

O debate em torno da implantação da EaD no Ifes precisa, também, considerar todos os questionamentos presentes nas publicações do Sinasefe Seção Ifes, incluindo de estudantes do Proeja (clique aqui e confira), e de representantes estudantis (clique aqui e confira), todas amplamente divulgadas. Além disso, há conhecidas dificuldades do NAPNE e da diversidade de estudantes que necessitam de atendimento especializado, nos mais variados cursos técnicos.

COVID-19

A Grande Vitória está entre as regiões metropolitanas brasileiras em mais crescem o número de casos do COVID-19 notificados. E de acordo com dados do Ministério da Saúde, ainda não foi atingido o pior cenário.

Ao realizar uma consulta de opinião com servidoras/es e estudantes, em um momento tão conturbado, em que muitas vezes o julgamento individual tenta sobrepor a ciência no que diz respeito à pandemia, o Sinasefe Seção Ifes também questiona: a opinião será adotada no Ifes como força motriz da qualidade da educação pública que se oferta?

Em um momento em que todos os demais Institutos Federais do país esperam uma resposta à altura de seus projetos educacionais, o Ifes, que tem como Reitor o dirigente máximo presidindo o Conselho Nacional de Reitores dos Institutos Federais Brasileiros (CONIF), dará esse exemplo de Educação Pública e de Qualidade?

Espera-se que as vozes dos docentes, dos técnicos-administrativos, dos estudantes, da comunidade, e do Sinasefe Seção Ifes, sejam ouvidas por este Comitê instituído, e que a chamada para um debate mais amplo e democrático ocorra em breve.

Suspensão do calendário

Diante de todos os fatos e questionamentos narrados, o Sinasefe Seção Ifes solicita e defende a suspensão imediata do calendário acadêmico no Ifes e a não implementação, neste momento, da proposta de EaD.

Diante de um cenário de crise sanitária e social, é necessário reafirmar a função social do Ifes, organizando-o para contribuir com as demandas da sociedade capixaba, como o fornecimento de insumos para os sistemas de saúde, participando de redes de solidariedade e conscientizando a população sobre os riscos da pandemia da COVID-19 (coronavírus) e a importância do isolamento social. Toda vida importa!

O Sinasefe Seção Ifes continuará realizando ações para proteger as/os servidoras/es da insegurança causada pelas decisões do Instituto neste momento de excepcionalidade e de grave crise. A luta sindical continua tendo como princípio fundamental a defesa dos interesses da categoria que representa e a luta em defesa da educação pública de qualidade, gratuita e laica, com referência social e em consonância com os interesses da classe trabalhadora, no nível nacional e local.

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