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Fala, Base! Comissão de Mobilização produz nota sobre atividades pedagógicas não presenciais

Fala, Base! Comissão de Mobilização produz nota sobre atividades pedagógicas não presenciais

Data: 6 de agosto de 2020

Conforme o documento do colegiado, o modelo de ensino não presencial tem sido um experimento precário, excludente e adoecedor 

A Comissão de Mobilização do Sinasefe Ifes, criada em julho, e formada por integrantes da direção do sindicato e a base, produziu a nota “Atividades pedagógicas não presenciais: um experimento precário, excludente e adoecedor”, sobre as condições de ensino-aprendizagem no Ifes. 

Na nota, a comissão ressalta que o processo de implementação das APNPs aconteceu de forma autocrática, sem ouvir a comunidade acadêmica, e que o modelo tem gerado exclusão, adoecimento e resultados frágeis de aprendizagem. 

A comissão foi criada na última assembleia geral que o sindicato realizou, no dia 8 de julho. O colegiado é responsável pela construção do Estado de Greve e agirá de maneira propositiva, pautando sugestões para o papel que o Ifes deve desempenhar neste momento, como, por exemplo, o de fomentador da pesquisa e da extensão, áreas em que é possível caminhar com segurança. Clique aqui e saiba mais.

Confira a nota:

ATIVIDADES PEDAGÓGICAS NÃO PRESENCIAIS: Um experimento precário, excludente e adoecedor

Estimada comunidade do Ifes,

A necessária suspensão das aulas presenciais, a partir do dia 18 de março de 2020, em virtude da ampliação dos números de infectados e mortes decorrentes da pandemia pelo COVID-19 (no dia da suspensão das atividades o Espírito Santo tinha 11 casos confirmados, sem óbitos; hoje já são mais de 80 mil pessoas contaminadas e 2500 óbitos registrados como COVID-19), gerou grandes preocupações com o processo de ensino-aprendizagem que desenvolvemos com nossos(as) estudantes no dia-a-dia dos campi; por isso, seguindo o modelo proposto por instituições educacionais privadas e impulsionado por grandes corporações tecnológicas, no dia 06 de maio de 2020, o Conselho Superior do IFES aprovou a Resolução Nº 01/2020, instituindo as APNPs como uma saída para retomada do calendário letivo.

O caminho para construção da referida resolução foi marcado por posturas autocráticas, que inviabilizaram um debate democrático dos diferentes setores da instituição. Depois de mais de dois meses sem atividades letivas, a reitoria só buscou “escutar” a comunidade acadêmica em período próximo à aprovação da referida resolução, fato comprovado pelos documentos produzidos pelos fóruns e grupos de trabalho da instituição (FONEABI, FGP, FONAPNE, FIAE, Grupo de Trabalho da Psicologia, Núcleo de Estudos de Gênero, Nota dos docentes e dos estudantes do PROEJA) que foram apresentados na véspera da reunião do Conselho Superior (CONSUP) e que foram solenemente ignorados.

O fato é que a instituição teve bastante tempo para ponderar os diversos pontos apresentados pela comunidade – representada pelo Sinasefe no Comitê de Crise -, somado ao tempo para avaliar os desdobramentos das APNPs, mas a reitoria optou por manter seu caminho inicial de prosseguir com o andamento do calendário letivo, fazendo meros ajustes burocráticos na Resolução Nº  01/2020.

Passados mais de dois meses da retomada do calendário por meio das APNPs, consideramos fundamental realizar um balanço dessa experiência, que tem tensionado fortemente a comunidade do Ifes. De início, destacamos que ao invés de construir novas bases para consolidar o tripé (ensino, pesquisa e extensão) da instituição, a reitoria optou por criar normativas para manter formalmente o calendário acadêmico, juntamente com ações paliativas (Auxílio Emergencial para contratação de pacotes de internet, empréstimo de equipamentos etc.), voltadas simplesmente para fornecer acesso dos alunos aos materiais disponibilizados pelos(as) docentes, desconsiderando o debate acumulado sobre a garantia do direito ao acesso à educação.

Nós que trabalhamos em uma instituição educacional que busca a excelência, sabemos que o processo de ensino-aprendizagem é muito mais complexo do que meramente garantir meios de acessar internet, ou de manter a continuidade formal do calendário acadêmico.  

Como educadoras(es), o nosso compromisso  é com a formação humana integral, o que no formato em vigor está profundamente comprometido, desestimulando a produção de novos conhecimentos e o compartilhamento dos que já estão consolidados.  

Não podemos perder do horizonte que nosso trabalho tem impactos muito maiores do que os aferidos em exames nacionais (ex.: ENEM). A nossa instituição tem desenvolvido ações para  o enfrentamento da pandemia, como a produção de álcool em gel a 70%, protetores faciais e a manutenção de equipamentos destinados ao combate à pandemia. Além disso, tem realizado eventos de extensão (como lives, seminários, etc.) e pesquisas com a criação de soluções para o enfrentamento da pandemia.  Essas ações demonstram as possibilidades de uma intervenção bastante positiva da instituição nesse momento crítico.

Por outro lado, a insistência de manter um calendário meramente formal, é um ponto bastante negativo, visto que precariza o ensino, exclui e provoca evasão, demonstrado pelo aumento do trancamento de matrículas em alguns campi, além do adoecimento de servidores e estudantes em função da inadequação a esse formato que tem se mostrado pedagogicamente inviável.

As reclamações de familiares/responsáveis, estudantes e servidores têm demonstrado uma  sobrecarga de todas as pessoas envolvidas, com longas horas de trabalho virtual – quando existe acesso à internet – construindo frágeis resultados educacionais alcançados até agora. As avaliações das APNPs realizadas pelas gestões dos campi e, pouco discutidas até o momento com a comunidade, apontam para uma baixa aprendizagem dos(as) estudantes nas diferentes metodologias utilizadas pelos docentes, tais fatos constatam a insustentabilidade da manutenção das atividades não presenciais.

Trazer o ambiente da sala de aula para a tela do computador ou do celular já se mostrou impossível e o que fica no seu lugar se limita muito mais a verificar os resultados daqueles poucos que conseguem acompanhar o ritmo intenso de tarefas enviadas, com reduzida oportunidade para expor dúvidas, comentar soluções, cuidar de dificuldades específicas, desenvolver a curiosidade e ir além do livro-texto. Tudo isso aumenta a pressão pelos resultados sobre a pontuação a ser alcançada, a fim de evitar a recuperação e/ou reprovação.  

Vivemos um tempo de incertezas. Em nossa comunidade, cuidar das famílias e da juventude deveria ser nosso foco. No lugar de somar pontos e nos preocupar com atividades avaliativas, poderíamos parar para pensar o verdadeiro sentido da educação dos nossos alunos, junto com as famílias e envolvendo toda a comunidade. Educar é também formar redes de apoio e solidariedade às famílias com alguém doente ou em luto, aos pais que perderam seus empregos, aos alunos que hoje pensam em desistir do Ifes por falta de adequado acesso à internet ou porque precisa trabalhar para ajudar em casa.

O Ifes foi um dos primeiros institutos federais a aplicar essa modalidade de ensino remoto, desconsiderando o posicionamento de servidores, estudantes e famílias.

O contexto exige solidariedade, e não individualismo. Precisamos reforçar os vínculos entre as pessoas, que são os verdadeiros alicerces do nosso instituto, o Ifes é lugar de gente, lugar de formar pessoas, não é uma empresa. O momento pede que tenhamos empatia uns com os outros, que a solidariedade sobressaia e que o medo não nos impeça de fazer o que é certo.

Estudantes, servidores e familiares estão vivendo um período de incertezas e cheio de desafios; o principal deles é nos manter vivos!

Nossa instituição precisa reverter esse modelo de trabalho construído pelas APNPs e a permanência do calendário, todas as experiências demonstram que o processo de ensino-aprendizagem não está se efetivando, ao invés disso, está trazendo incertezas aos trabalhos dos profissionais e precarização aos conhecimentos dos(as) estudantes.

Basta de soluções mágicas e políticas genocidas para enfrentar o COVID-19 em nosso país, precisamos de ciência, educação e solidariedade para fazer diferente e construirmos juntos uma saída para esse momento caótico!

Comissão de Mobilização do Sinasefe Ifes – criada em assembleia e formada por integrantes da direção do Sinasefe Ifes e representantes da base do sindicato.

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